O médico e a boneca. Norman Rockwell, 1929
Norman Rockwell Museum, Stockbridge, U.S.A.
Bom, vocês se lembram que eu disse aqui que estava muito ansiosa para ver o meu doutorzinho? Pois é, o que não contei pra vocês foi que espiei as minhas ressonâncias alguns dias antes, pois encanei que ia ficar tão ansiosa que não ia prestar atenção na consulta. Bem, a ressonância do crânio estava do mesmo jeitinho então dizia que não tinha nenhuma lesão nova, o que me deixou quase tranquila. Mas quando vi a da coluna cervical fiquei sem entender nada, estava escrito que foi marcado uma lesão nova na C7. Xiiii, foi aí que fiquei preocupada, o que era aquilo? Se no próprio laudo não mostrava realce com contraste? Confesso que fiquei preocupada!
Bem mas na sexta-feira, eu e o Baby nos mandamos pra São Paulo rumo ao consultório do meu doutorzinho, eu num nervosismo só!
Quando a Helô, secretária dele nos mandou entrar, senti um frio na barriga e ele já foi perguntando: "E aí como vocês estão?" Ele iniciou a minha consulta questionando o Baby sobre seu trabalho, e quando soube que é em outra cidade que ele trabalha, quis saber se era muito longe e com o que ele estava trabalhando. A princípio fiquei sem entender por que aquele questionário da vida do Baby, mas depois percebi que ele estava investigando o meu estado emocional. E aí ele perguntou tudo que eu estava sentindo, e eu comecei a nossa conversa dizendo a ele que a nossa viagem para França valeu como experiência sobre o estado emocional e a esclerose múltipla, pois como eu estava feliz e me sentindo plena, lá não senti nada. Andei muito e nem um formigamento senti e ele concordava.
E continuei a contar: "dessa vez foi muito estranho, eu estava ótima e de repente senti uma forte tontura, um grande cansaço pra realizar qualquer tarefa mesmo que cotidiana, como um banho por exemplo e no meu nariz senti uma coisa esquisita, parecia que estava passando uma corrente elétrica nele. Não sei se dá pra entender doutor!" E ele apenas olhava pra cima para pensar em tudo que eu dizia, balançava a cabeça num gesto de concordância e logo anotava tudo. E eu continuei, "a perna esquerda tem hora que pesa, a direita dói na hora de dormir, o pé esquerdo queima quando está calor e todas essas coisinhas, mas o que está mais frequente é a dor de cabeça". Aí ele me perguntou, " qual é a frequência dessa dor de cabeça? Mais de três vezes por semana?" E eu disse "está quase que diária, cada vez mais frequente e forte, tem dias que tomo dois analgésicos." Aí ele perguntou " Mas isso a quanto tempo? Antes de vocês viajarem?" "Sim doutor, acho que começou em abril." " Mas e lá doeu?" E eu respondi "Não lá não doeu, doeu na volta dentro do avião e foi uma dor terrível que só passou com um remédio francês que tomei no vôo." E foi aí que ele me disse " É exaqueca!" e eu "Não é cefaléia tensional?" e ele "Não, é enxaqueca mesmo, 90% das mulheres que tem enxaqueca tem essa crise forte em viagens internacionais e no seu caso tem tudo a ver com a esclerose múltipla." E eu caí de queixo, nunca imaginei que pudesse ser enxaqueca.
Aí ele me chamou pro exame clínico e começou todo o procedimento, marcha, força, sensibilidade, acuidade visual, reflexo, coordenação, equilíbrio entre outros. Enquanto ele me examinava, perguntou pro Baby o que a gente ia fazer de bom em São Paulo, e o Baby disse ao doutorzinho que tinha que achar um restaurante com uma sobremesa que eu comi na França e viciei, "o creme brulée" e ele ahhh, então vai olhando esse livro enquanto a examino. E mostrou um livro com os melhores restaurantes de São Paulo, coisa que o Baby quase que nem gosta, gastronomia!
Pronto, terminado o exame clínico, voltamos a sala, e ele disse que estava tudo ótimo e deu a minha nota, isso mesmo, chamo de nota o meu EDSS que é a escala de avaliação neurológica, e a minha nota foi......Zero!!! Uhuuuu! Nunca fiquei tão feliz com uma nota 0!!
Bom, fomos desvendar as Ressonâncias Magnéticas. Eu já comecei dizendo a ele "doutor gostaria que o senhor me explicasse tudo que o senhor vê aí, porque eu vi que deu uma nova lesão na coluna. E gostaria que o senhor me tirasse uma dúvida, pela RM o senhor consegue saber se as lesões tem a ver com as minhas queixas?" E ele respondeu: "Não, as lesões são múltiplas e não dá pra saber as áreas que foram afetadas diretamente, a doença é muito complexa! Mas venha ver a sua ressonância da coluna." E lá fui eu, ele contou as vértebras até chegar na C7 e me mostrou, "tá vendo aqui esse branquinho que quase não dá pra ver, foi isso que o laudo mostrou. Mas comparando com a anterior, olha aqui, contou tudo de novo até C7 e disse "ela já estava lá e o médico que analisou o exame não viu, mas agora nessa última ressonância nem deu realce depois do contraste, o que quer dizer que está tudo quietinho. Na ressonância do crânio deu estável sem nenhuma lesão nova significante e na da coluna também, e pelo que vejo aqui, a lesão ainda parece menor."
E gente, que coisinha minúscula, parece que um pedaço do papel tá desbotando e isso porque meu doutorzinho a olhou até de lupa. E mesmo assim a encanada perguntou “Mas isso quer dizer exatamente o que? Já ouvi falar que mesmo sem surtos a EM pode progredir.” Aí foi quando ele nos explicou, “Isso é o que chamamos de Progressiva Secundária, que mesmo sem surtos ela continua progredindo. Mas a sua está estacionada, sem surtos e sem progressão, quietinha!!!” E eu do outro lado da mesa, suspirei fundo, ufa era tudo que eu queria ouvir!!! Mas ele ainda continuou “ O que você sentiu são sintomas da esclerose múltipla, tem suas baixas mesmo, e ainda é bem comum a piora desses sintomas nas mulheres no período menstrual, infelizmente a doença faz isso, por isso precisava te ver, ouço todas as suas queixas e as comparo com o exame clínico e as ressonâncias, e posso dizer que você está ótima!"
E então no final da consulta o Baby comentou que já faz mais de 3 anos que uso a injeção diariamente, por isso estava difícil de achar um local sem caroços, então perguntou se havia a possibilidade de ficar um tempo sem usá-la e foi quando ele nos disse que a maioria dos pacientes reclamam desses carocinhos, ficam de saco cheio de tomar injeção todo o dia e acabam desistindo do tratamento. E eu me meti e disse, “Eu nunca desistirei do tratamento.” E ele disse, “Estamos sugerindo ao paciente ter um dia de folga, você escolhe um dia da semana e fica sem tomar que não terá nenhum problema.” Claro que sobre isso tirei todas as dúvidas, perguntando se não tinha nenhum risco e ele disse que não, e ainda me tirou meus dois medicamentos que tomava há três anos e meio, o complexo vitamínico e o ácido fólico e disse que se por acaso eu engravidar volto a tomar.
Mas ainda terminou a consulta dando o livro de presente pro Baby e me receitando um medicamento próprio para a enxaqueca e disse “esse remédio é para epilepsia, mas você vai tomar a dose mínima que junto com o antidepressivo faz um bom casamento, você começa e me liga uma semana depois pra dizer como se sente.”
E assim foi a minha consulta, uma esclarecedora conversa com o meu doutorzinho, com ótimas notícias!!!
Saí de lá muito mais leve, tirei todo aquele peso das costas.
Vou parar por aqui deixando vocês com muitos beijinhos e desejando um ótimo feriado!!!
E até mais...
Em tempo: Como hoje se comemora o dia da Independência do Brasil, para aqueles que como eu adora ciências sociais, vale a pena ler esse artigo de Isabel Lustosa - O Estado de S.Paulo.
Fico super feliz com os ótimos resultados dos teus exames e consulta. Parabéns guriazinha!!!
ResponderExcluirMeu EDSS é um pouquinho mais que 6, mas acho que a minha EM, agora, está quietinha também. As vezes fico muito mal, mas sei que é "stress".
Problemas todo mundo tem, mas para nós, esclerosados, eles fazem um mal ainda maior, coisas da EM.
Adorei o que escrevestes, pois mostra que nem tudo o que sentimos representa a progressão da doênça e sim sintomas que vem e vão, graças a Deus né?!!
Nos duas temos muita sorte, pois pelo que vejo teu "Doutorzinho" é ótimo e o meu também, ele é o meu Anjo da Guarda.
Beijinhos Fabi e fica com Deus.
Que notícia maravilhosa minha amiga!!!
ResponderExcluirNada como visitar nossos queridos doutorzinhos e tirar todas as caraminholas de nossas cabeças.
Estava super anciosa pra saber o que tinha dado em sua consulta, mas estava viajando e só cheguei agorinha.
Também tenho enxaqueca e já tomei um remédio pra eplepsia tb e foi ótimo mesmo.
Melhoras ai Fabi.
Adoro vc!
Super bjo!
Olá Neyra,
ResponderExcluirobrigada pela força! Fico feliz em saber que também tem alguém em quem confia plenamente acredito que é o primeiro passo para cuidar da nossa companheira diária a EM!!!
Grande beijo
Fabí
Rê querida amiga, bom saber que você já usou esse tipo de medicamento, estou com u pouco de medo de dar alguma reação. Começo na
ResponderExcluirsegunda-feira!!!
Você falou tudo quando diz caraminholas...
Beijão querida e mais uma vez obrigada por tudo!!!
Fabí