16 de out. de 2009

É SEMPRE BOM RECORDAR


Olá pessoal, tudo bem com vocês? Eu estou bem graças a "Dieu". Hoje dormi até cansar de ficar deitada, levantei e peguei uma cozinha enorme para arrumar enquanto cozinhava um macarrãozinho com salsicha para almoçar.

Enquanto isso fiquei dando atenção pro louro que não para de gritar.

Bom gente, ontem quando acabei de postar me veio na memória uma professora inesquecível que tive em Brasília, e gostaria de falar dela aqui.

Ela não foi uma professora qualquer, ela era minha professora particular, isso mesmo gente, confesso aqui que nunca fui muito fã de estudar, tinha uma preguiça enorme de fazer dever de casa e uma grande dificuldade em matemática, ou melhor, detestava matemática!

Eu devia ter 11 anos por aí, quando comecei a frequentar as aulas dela. Nós estudávamos na escola pública, numa época que a escola do governo era muito boa ou até melhor que as outras. Eu devia estar na quinta série ou sexta não me lembro ao certo, e as aulas particulares dela eram super famosas no Lago Norte, uma península onde a gente morava, na época muito distante de tudo, quem conhece sabe do que estou falando.

Bom, ia para escola de manhã e a tarde pegava a bicicleta e pedalava até a casa dela. Seu nome é Sila, Dona Sila, como chamávamos, ela contava que sua mãe gostava de música e então o nome dos filhos tinham a ver com as notas musicais, Si e La. Era uma senhora mais velha, não sei ao certo quantos anos ela tinha, mas era uma mulher viúva que morava sozinha, numa casa toda arrumadinha. Tinha um jardim grande ao fundo, que era por onde a gente entrava e tinha uma porta de vidro que dava na sala de estar.

Se eu chegasse e ela ainda estava dando aula, sentava em um dos seus sofás antigos, mas impecavéis, e ao som de "um piano ao cair da tarde" esperava com o maior prazer a minha vez. Esse era o nome de um programa de música clássica gravado no Conjunto Nacional (o shopping mais antigo de Brasília), que era transmitido pela rádio. Faz tantos anos, mas acredito que ainda exista, ela gostava muito de música e de leitura. Era apaixonada por Carlos Drummond de Andrade, e não escondia isso de ninguém, a gente sabia porque ao entrar na sala onde ela nos dava aula a gente se deparava com uma foto-imagem dele que estava assinada por ele mesmo, ela em alguns exercícios de português fazia questão de citá-lo com alguma frase ou coisa assim.

Era uma mulher muito inteligente, além de saber tudo de português e matemática, era muito atualizada e discutia qualquer assunto. Dava aulas de português e matemática para todas as séries, quem tinha aula com ela, encontrava a cada dia, um amigo ou um colega, praticamente todos se conheciam.
Ela gostava de usar aquelas canetas pilot de ponta de aço azul e vermelha que faz aquele barulhinho quando está escrevendo, mas a sua marca registrada era mesmo o lápis, que era apontado com estilete e ficava com aquela ponta enorme, só ela conseguia escrever com aquilo, tinha uma letra maravilhosa e falava um exímio português com um leve sotaque sulista, de onde viera.

Ela atendia no máximo três alunos por aula, era uma mesa com quatro lugares. O resto da casa era um mistério para os alunos, nunca ninguém havia entrado lá. Ela era muito reservada e não dava muita intimidade a ninguém.

O que comigo posso dizer que era diferente, minha mãe costumava dizer que ela era minha puxa- saca. Em uma ocasião tive uma terrível crise de cólica menstrual durante a aula, e ela com toda amabilidade me levou em seu quarto, que era uma jóia te tão arrumado e que como toda a sua casa, combinava com os móveis antigos, tinha cortinas que nem existem mais. Ela me disse pra deitar em sua cama, me deu um cobertor e foi fazer um chazinho de camomila para mim, enquanto esperava minha mãe vir me buscar.

Gente eu fui a única entre nossos amigos que conheci esse lado maternal dela e de quebra o grande "mistério" que era a sua casa. Depois disso, acabei sendo a aluna que ia na cozinha buscar água para os outros alunos quando eles pediam, numa dessas vezes vi uma coisa branca esquisita dentro de um saquinho, e xereta como sou até hoje, cheguei perguntando a ela o que era aquilo, ela me explicou que era leite que ela estava deixando talhar para fazer requeijão e explicou todo o processo de fermentação, produção do ácido e tudo mais, me deu um pouquinho para levar pra minha mãe.

Adorava a Dona Sila, suas aulas eram uma delícia e eram o que me livrava das repetências, porque naquela época, reprovava mesmo, ela me fez até gostar de matemática, ou melhor, entender a matemática, porque gostar era difícil, mas era incrível a forma como ela ensinava a resolver uma equação de segundo grau, ela desmistificou a matemática e cada vez mais eu gostava de português. Ela me acompanhou bem uns 5 anos, foi a forma que minha mãe encontrou para eu estudar. Me lembro de uma prova que tive que fazer para entrar no CEAN, outra escola pública de renome que precisava de prova para conseguir a matrícula, um dia antes da prova, ela me mandou não estudar mais, porque se você fica estudando até em cima da hora, não funciona, ela explicava, o cérebro fica cansado e apaga tudo facilmente, por isso o certo é se preparar antes e sempre e no dia descansar, dormir e nem pensar na prova.

Foi o que eu fiz e passei com "louvor", como lembrou a minha mama esses dias! Ontem me lembrei tanto dela antes da provinha de francês que parei de estudar e fui relaxar um pouco. Percebi que fiquei muito mais tranquila do que da outra vez que estudei até a hora da prova.

Dona Sila foi uma pessoa maravilhosa, dizia a minha mãe que eu tinha uma percepção muito boa quando havia algum erro descobria facilmente, dizia que eu era perfeccionista e que poderia ser uma maestrina com essas qualidades! Hehehehe

Acho que ela gostava de mim não é? Era minha puxa-saca mesmo e tenho orgulho disso! Hehehehe

Há alguns anos minha eterna melhor e mais antiga amiga Silvia (Siba) me disse que ela já tinha falecido há algum tempo! Fico sentida até hoje, existem pessoas que deveriam ser eternas. Ela é uma delas.

Dona Sila será para mim eterna, minha eterna professora!

Em sua homenagem vou colocar um versinho de seu "amado" escritor:

"O professor disserta sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
Cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudí-lo?Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz,
Com medo de acordá-lo."


Esse post foi em mémória de Dona Sila uma professora inesquecível, que sempre será lembrada por essa fiel aluna!
Beijinhos e até a próxima pessoal!

Espero que tenham gostado de conhecer um pouquinho da Dona Sila!

Ótima sexta a noite!


4 comentários:

  1. Gostei de ver sua homenagem à professora e a Drummond.
    Um abraço amigo.

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  2. Muito Lindo, sou apaixonada por Carlos Drummond de Andrade....
    Linda Homenagem!

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  3. Flavia Dal Ri Barbosa19 de out. de 2009, 02:12:00

    Esqueceu do pastor alemão, a quem ela dava bolachas de agua e sal! Não lembro o nome dele!
    Mulher incrível , salvou muita gente das recuperações.Me incluo aí.

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  4. Mais um ponto que temos em comum Fabi, também detestava estudar e detestava mais ainda a tal da matemática, rsrsrsrsrsrs.
    Me lembro que muitas vezes colocava uma revista no meio dos livros para que minha mãe pensasse que eu estava estudando.
    Também precisei de muita aula particular para tentar entender alguma coisa dessa matéria ingrata, rsrsrsrsrsrs
    Linda a homenagem que fez para a Dona Sila. Viajei aqui amiga... consegui ir até a casa dela - na sala onde dava as aulas, na cozinha e até em seu quarto.
    Ela, sem dúvidas, fez um brilhante trabalho com vc. Tenho certeza que ela ficaria extremamente orgulhosa ao ver a sensibilidade que vc tem ao escrever.
    Sinceramene fazia tempos que não me sentia assim, como se estivesse na cena que está sendo narrada.
    Parabéns Fabi e obrigada por nos proporcionar momentos tão agradáveis.
    Oh, sou sua FÃ número 1!!!!
    Bjão!!!

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